quarta-feira, 11 de março de 2009

E aí? Você é a Nega maluca?

Compreendo e aprovo a onda mundial de legitimar os M.F, e como isto repercuti positivamente na implementação de políticas públicas para mulheres de uma forma geral. Todo este respeito mundial construído com o passar das décadas de militância é um resultado de grandes batalhas, ainda infindáveis, entretanto será que não estamos vivendo uma nova performance do machismo? Não estão todos agora querendo personificar um politicamente correto, para assim tentar calar todas estas mulheres “histéricas e lésbicas”, como é visto, ainda hoje, o M.F? Existe uma nova versão do movimento machista “organizado” que não deve ser posto de lado e nem interpretado como paranóia feminista.
Os ganhos são incontestáveis, mas as novas máscaras também são. A Constituição brasileira de 1988 destitui formalmente o pátrio poder, entretanto em que espaço o homem não é o centro do comando? Os grandes poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, têm seu percentual de mulheres, mas estas são vistas e respeitadas da mesma forma? Ou estas têm que a todo o momento que delimitar espaço e demonstrar que merecem estar ali? Marta Suplicy, grande, principiante na luta de mulheres nos partidos políticos, simbolicamente prefiro Benedita da Silva, que escreveu belíssimos artigos sobre a mulher no Brasil, como exemplo a sua tese de mestrado: Papel da Mulher na Ação Comunitária nos Seguimentos Carentes da População, que contribui diretamente para mudanças siginificas do papel feminino no espaço barsileiro, laém de ser uma mulher e negra e quais são os comentários feitos sobre ela? É sempre válida a luta, mas também é coerente observar de que forma os ganhos são encarados. Observe o âmbito do Movimento Feminista Negro (MFN), deparamos com algumas situações mais complexas, que serão expostas no próximo parágrafo.
Não concordo, plenamente, com o termo enegrecendo o feminismo, citado no texto de Sueli Carneiro, está expressão dá a entender que a mulher negra entra no movimento feminista, após deste formado, e a partir daí começam a colocar algumas demandas específicas ou simplesmente o compõe mudando a melanina do movimento. As mulheres negras sempre foram feministas não institucionalizadas , exemplificando; a Irmandade da Boa Morte, os terreiros de candomblé chefiado por mulheres negras ou as baianas de acarajé (Detenho-me as formas de militância de mulheres negra da Bahia).
Algumas questões devem ser pautadas quando é legitimado o “enegrecimento” do feminismo por algumas autoras, inclusive Carneiro. Uma delas: O M..F. está disposto a conviver com opiniões divergentes e construir um novo movimento? Nada é concedido, concordo, mas a questão feminista é aceita mundialmente após anos de luta, e a questão racial, que tem séculos sendo discutida, é tão bem aceita? Às vezes acredito que minha filha terá que falar as mesmas frases que eu, para convencer às pessoas de que o racismo existe, para sim exigir políticas públicas, isto é bem cansativo.
Temos dois grandes problemas no imaginário do movimento feminista brasileiro. O primeiro diz respeito que não começamos o movimento feminista, depois das brancas, a nossa inclusão no movimento “delas” não foi tardia, apenas nunca se obteve destaque, no primeiro Navio Negreiro, em que mulheres se jogavam no mar, cuidavam de seus homens, de seus filhos e dos seus cultos religiosos de forma sigilosa, representam as formas diretas de feminismo, não precisaríamos queimar sutiã para começar uma grande luta feminista, porquê nem usávamos, nossa luta começa quando abortamos com uso de ervas, para não ter os filhos amaldiçoados dos abutres brancos, isto sim foi luta feminista no século XVI no Brasil
O segundo ponto é que não dúvidas que o movimento feminista clássico é composto por algumas mulheres negras, que são grandes protagonistas, entretanto estas não conseguem as mudanças significativas como se estivessem com Núcleos negros. Não estamos falando de soma de mulheres negras, isto não é o resultado ideal, mas sim a conjunção de propostas específicas e bem elaboradas, que só terá o efeito desejado se a luta for dos próprios sujeitos interessados, falando por si mesmo e para eles mesmos.
Nos espaços feministas clássicos o quesito cor, é um a separação de lutas, uma diminuição de poder e não uma soma, como não se observa no M.F.N., muitas dessas feministas tradicionais compreendem que o racismo superlativiza os gêneros por meios de privilégios, entretanto muitas acreditam que a grande causa é empoderamento feminino e ponto final, diluindo o problema racial em apelos psicológicos de ex- escravizados.
As mulheres negras sofrem com a violência sexual, com a criminalização do aborto, com o racismo institucional de duas vias, gênero e raça, mas existe uma violência extremamente aterrorizante e aparentemente infindável que atua no setor publico e privado, atormentando qualquer mulher de cor, é a violência simbólica. E aí é você a negra maluca? Qual o papel de você negra nesta sociedade? Globeleza, Negra Maluca ou Tia Nastácia? Existe outro papel?
A proposta do M.F.N também não é uma inversão de papéis, colocar mulheres brancas para serem babás ou empregadas domésticas, mas dialogar os problemas e a construção deles, usando políticas públicas para superá-los, entretanto medidas especificas, mas sempre reinando um bom senso e comum acordo. Não é necessária uma guerra entre mulheres, mas uma analise na construção de estereótipos. Que negras não sejam Nastácia (Sítio do Pica Pau Amarelo), e nem brancas Luísa (Primo Basílio), mas que construam e controlem representações pertinentes.

Lis Y.

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