sábado, 16 de agosto de 2008

Carta divulgada pelo Pérolas Negras - Núcleo de Estudantes Negras da UFBA no dia 20 de novembro de 2007


CARTA À DANDARA

Querida Dandara,

Esta carta aberta vem com atraso, sabemos disso, mas é necessário ratificar que nunca estivemos mortas e, apesar de estarmos nas lutas feministas e do movimento negro e sermos invisibilizadas, nunca fomos agentes passivas.

Reconhecemos no 20 de novembro - e durante todos os dias de nossas vidas - a sua luta em Palmares. E é essa luta que nos serve de seiva para enfrentarmos os racismos e o machismo cotidiano. Dandara e dandaras... Lindas pérolas negras que existem e se afirmam mesmo diante da imposição de uma invisibilidade social e histórica.

Sem negar a importância de Zumbi, estamos aqui minha preta, para afirmar que a consciência negra se constrói a partir da valorização das nossas irmãs de África. Mais do que companheira de Zumbi na luta pela nossa liberdade ainda não alcançada, você Dandara, representa a libertação das mulheres pretas dos estigmas e das negações que são impostas a cada momento em que seu nome é evocado.

Teu nome está presente em nossas mentes como força para resistirmos e reagirmos à discriminação no mercado de trabalho, à negação imposta pelos homens negros, brancos e pelas mulheres brancas, às retaliações que sofremos quando nos afirmamos ­esteticamente e intelectualmente - no modelo racista e sexista de educação.

Ah, Dandara... O nosso quilombo de mulheres pretas que lutam - e lutarão - ao lado de alguns dos seus irmãos pretos resiste. Ainda falando de negações e invisibilidade, não podemos nos esquecer de "nossa presença" na mídia. Aliás, Dandara, não estamos na mídia. Não estamos porque os pequenos papéis que são reservados aos homens e mulheres pretas não demonstram a força que nós temos. O que a mídia tenta fazer de nós, faz parte de um plano que tentar destruir nossas identidades em prol de estereótipos e estigmas de putas, burras, problemáticas...

E o pior Dandara, é que muitos daqueles que se dizem nossos irmãos nos vêem e nos entendem nesse espelho distorcido... Desse modo, vários deles nos negam e (se) afirmam nos padrões estéticos das mulheres brancas. Além disso tudo, nossas irmãs pretas lésbicas são excluídas e invisibilizadas do movimento negro, pois muitos de nossos irmãos não compreendem o triplo preconceito que a mulher negra sofre.

Dandara, terminamos esta carta com um abraço carinhoso, e um recado:

CONTINUAMOS DE PUNHOS CERRADOS, RESISTINDO SEMPRE!

Saudações,

Pérolas Negras
Núcleo de estudantes negras da UFBA
perolasnegrasufba@gmail.com

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