sábado, 30 de agosto de 2008

MULHER NEGRA UMA OUTRA HISTÓRIA

Pouco mais de cinqüenta anos nos separam da universal declaração de direitos ao que é humano.
Pouco mais de um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.
Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem afetividade.
Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência: a de gênero, privada, no lar; a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria; e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.
Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.
É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.

Alzira Rufino.

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