sábado, 12 de setembro de 2009

O Racismo manifestado nas músicas populares e suas conseqüências para a mulher negra

Rebeca Brito

(Graduanda em Ciências Sociais pela UFBA)

É cada vez maior o sensacionalismo gerado em torno das músicas mais ouvidas pela população negra e excluída deste país. As mídias apelativas atuam como “críticos” do que já se sabe e perpetuam os mesmos discursos do período colonialista. Não é novidade alguma que essas músicas são formadas por letras apelativas e ritmo contagiante. Talvez seja esse ritmo que não desperte a curiosidade dos jovens da periferia refletir sobre a música que eles ouvem. São vários fatores que impedem essa reflexão, mas apenas a situação da mulher negra será levantada nesse texto.
Mesmo sabendo que os vários estilos de músicas em sua maioria quando vão falar da mulher negra é sempre em um perfil estereotipado e nunca para exaltá-la, o pagode é comumente atacado como se a culpa de todos os outros estilos fosse reduzida. Então, vale lembrar algumas outras músicas, como o axé, que na canção Fricote de Luiz Caldas a “nega do cabelo duro que não gosta de pentear” que vem para detonar com a imagem dos lindos Black’s daquelas que se recusam a usar ‘escova regressiva’; sem ficar atrás do compositor do Fricote, Lamartine Babo com “O teu cabelo não nega”, evidencia a sexualidade da mulher negra com a mulata na cor que não pega nesse conceito equivocado onde a mulher negra é dada ao sexo; entre tantas outras utilizadas como ferramenta do racismo.
Analisando o pagode como forma de afirmação daqueles que são e se sentem marginalizados pela sociedade, o ritmo contagiante é uma das saídas encontradas pelas jovens negras para se sentirem nem que seja por minutos ou horas vistas como parte desse sistema. O comportamento alvo de críticas da estrutura racista e machista dessa sociedade penaliza essas mulheres e a excluem dentro de um processo já excludente. As estatísticas mostram as mulheres negras sempre em último lugar nas pesquisas, em relação ao salário, atendimento médico, nível de escolaridade, etc.
Em meio às imagens vinculadas em programas apelativos e vídeos mais visitados em sites de relacionamentos, a mulher negra está lá, exposta como mercadoria, como produto fácil de ser adquirido. Reforça-se o estereótipo da mulher negra como o padrão de beleza inferior contrapondo com o ideal de branquitude, como disse Black Style em “Vaza Canhão”, a loira de olhos verdes na verdade tinha zoião e um cabelo de assolã. Os traços belíssimos que nós mulheres negras desfrutamos são sempre atacados e na maioria das vezes nos impede de nos assumirmos enquanto belas descendentes de africanas que somos. Mesmo sabendo que o racismo e machismo são um mal a ser extinto, muitos daqueles que supostamente lutam por uma sociedade mais justa vêem essas mulheres negras como “mulher de rua” que não serve para está do seu lado, na sua casa, como parte de sua família. Esses mesmos homens se esquecem que essas mulheres fazem parte da sua vida e não tem como negar, são suas irmãs, primas, tias... E que se esse problema da valorização da mulher negra afeta a sociedade esse é também um problema do racismo. Não é somente um problema das mulheres, mas da sociedade como um todo. Se é sabido que o racismo não é problema só dos negros, também é importante ratificar que o machismo e o sexismo não é apenas um problema das mulheres, mas da sociedade como um todo.
Finalizo com um poema para nós negras e negros (e também não-negros) refletirmos sobre nossa postura diante do racismo, e quem sabe re-construirmos novos valores.

MEU corpo,
MINHA pele.
Sou preta,
Mas não me resumo a minha beleza.
Não sou objeto sexual
Sou negra, mulher intelectual
Produzo CONHECIMENTO.
Afloro minha feminilidade
Respeite minha integridade
Sou preta, não por beleza
Minha fala é preta
Minha vivência é preta.
Por isso eu digo:
Mulher preta, não se submeta!

(Ayobami Shani)

Um comentário:

Anônimo disse...

É um excelente texto, bastante reflexivo que dialoga com a nossa realidade. Considero um bom ponto de partida para iniciar uma discussão com jovens e adolescentes sobre o assunto.
Abraço
Regina