Em seu último "Boletim Mercado de Trabalho - Conjuntura e Análise",publicado em novembro de 2008, o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) revelou que as mulheres negras são as mais excluídas do mercado de trabalho, tanto em renda quanto em acesso a empregos formais ou de maior status social.
A nota técnica "DIFERENCIAIS DE RENDIMENTOS POR SEXO E RAÇA", baseada na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios(PNAD)do IBGE, revela que:
"Conforme se observa, há diferenças significativas de rendimento entre os grupos. Homens negros, mulheres brancas e mulheres negras auferem rendimentos correspondentes, respectivamente, a 54,2%, 79,8% e 48,7% dos rendimentos dos homens brancos. Tais dados revelam que os diferenciais de rendimentos no mercado de trabalho são muito maiores por raça do que por sexo. De fato, enquanto os rendimentos das mulheres equivalem a 85% do auferido pelos homens, no caso dos negros os rendimentos representam cerca de 57% dos rendimentos dos trabalhadores brancos."
"Em qualquer um dos grupos considerados (homens negros, mulheres brancas e mulheres negras) é possível notar que o diferencial de rendimentos aumenta com a idade. A relação entre o rendimento/hora de um homem negro em relação a um homem branco é de 75,7% na faixa etária dos 18 aos 24 anos, diminuindo até alcançar 42,9% na faixa dos 55 aos 60 anos. As mulheres negras, por sua vez, ingressam no mercado de trabalho ganhando 69,1% do rendimento/hora dos homens brancos entre os 18 e 24 anos, e terminam com rendimentos que representam 38,6% dos rendimentos dos homens brancos. Em ambos os casos, é possível notar que o a discriminação no mercado de trabalho possui um efeito cumulativo sobre o rendimento de mulheres e negros ao longo de sua trajetória laboral."
"No caso dos homens negros, o padrão de discriminação é menos correlacionado
com a escolaridade: tanto os trabalhadores com menos de 3 anos de estudo quanto aqueles nas faixas de 8 a 11 anos de estudo apresentam um diferencial de rendimentos menor em relação aos homens brancos."
O relatório conclui que houve redução no processo de exclusão das mulheres negras no mercado de trabalho, como consequência de um crescimento real da renda da maioria dos brasileiros nos últimos anos.
Entretanto, as desigualdades raciais e sexuais no mercado de trabalho persistem, afligindo ainda de forma mais perversa as mulheres negras. É importante que a renda da população cresça de forma significativa mas, consideramos indispensável que políticas reais de reparação sejam efetivadas, através de políticas públicas de ações afirmativas e de uma posição mais efetiva do estado brasileiro em relação a este tipo de desigualdade.
A discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho será minimizada quando o Estado convocar o empresariado nacional para discutir seriamente esta questão, garantindo cotas e programas de Responsabilidade Social que levantem o debate sobre o respeito à diversidade de raça, de gênero e de orientação sexual.
A exclusão das mulheres negras nos espaços de poder será minimizada quando os governos exigirem dos meios de comunicação de massa que garantam espaços para as mulheres negras fora dos cenários da cozinha e da senzala das novelas. E, também, determine que as desigualdades raciais e sexuais sejam apresentadas de maneira ética e responsável.
A desigualdade em relação aos rendimentos de negros e brancos será minimizada quando for realizado um plano nacional de ações afirmativas nas universidades públicas federais, que garanta o acesso, a permanência e o encaminhamento do aluno negro e cotista ao mercado de trabalho. Para tanto, uma vez reconhecida as disparidades raciais - como a apresentada no "Boletim Mercado de Trabalho - Conjuntura e Análise" de nov.2008 do IPEA e em outras publicações - É NECESSÁRIO QUE COTAS RACIAIS SEJAM IMPLANTADAS.
PELA APROVAÇÃO IMEDIATA DO ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL!
POR COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES E NO SERVIÇO PÚBLICO!!
POR UMA INSERÇÃO RESPONSÁVEL DAS MULHERES NEGRAS NA MÍDIA!!!
O PÉROLAS NEGRAS - NÚCLEO DE ESTUDANTES NEGRAS DA UFBA AFIRMA QUE NÃO BASTA ANALISAR E RECONHECER O PROBLEMA, É PRECISO QUE SEJAM GARANTIDOS ESPAÇOS DE PODER PARA AS NEGRAS E NEGROS.
sábado, 27 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
CASA GRANDE E SENZALA EM QUADRINHOS
A REPRODUÇÃO E A NATURALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA RACIAL E DE GÊNERO NAS SALAS DE AULA
A imagem e o comentário acima foi retirado da obra intitulada “Casa Grande & Senzala em Quadrinhos”. Trata-se de uma versão juvenil e facilitada,republicada no ano de 2005 pela Fundação Gilberto Freyre e Global Editora.
A VERSÃO EM QUADRINHOS DO LIVRO É UTILIZADA EM DIVERSAS ESCOLAS DO PAÍS.
O livro em quadrinhos se propõe a reproduzir uma visão distorcida e discriminatória da História do Brasil, perpetuando uma interpretação centrada no olhar da Casa Grande e invisibilizando a participação política, intelectual e econômica da população negra e indígena pela própria versão desses sujeitos.
As imagens e frases reproduzem, de forma simplória e equivocada, o mito da democracia racial, que, por meio de um processo de revisionismo, desconsidera a opressão, tortura e exploração ocorridas na escravidão colonial, escamoteia e naturaliza os processos de violência física e simbólica sobre crianças, mulheres e homens negros e indígenas. Chegam ao extremo de dar explicações inacreditáveis às práticas de tortura contra escravizados/as.
Naturalização da opressão e violência contra as mulheres negras e indígenas
Na obra contestada, o recurso à imagem potencializa exponencialmente os efeitos danosos da argumentação que, em si mesma, pode ser considerada um libelo racista e sexista: são imagens plasticamente perfeitas, atrativas, que corporificam visualmente as idéias que o texto
apenas sugere.
Ora, a carga simbólica que trazem os desenhos de mulheres negras e indígenas nuas ao lado de homens e mulheres brancas vestidos, e que mostram crianças negras “montadas” por crianças brancas, e outras imagens de igual teor, vem ao encontro de um imaginário nacional em que mulheres negras e indígenas são desconsideradas em sua dignidade humana, reforçando o caráter de objeto sexual e de despersonalização com que o processo de formação nacional as tratou, justificando este imaginário.
A relação de poder estabelecida sobre mulheres indígenas, que se trata hoje do reconhecimento histórico exigido pelos movimentos indígenas brasileiros, é distorcida de tal modo a representar os corpos das índias ressaltando uma suposta “sensualidade natural”, criando modelos idealizados das mesmas que, pela idéia transcrita no texto, se submetiam como objetos de desejo sexual do colonizador.
Da mesma forma, as mulheres negras são descritas como seres de sexualidade ativa e tão-somente objetos de prazer do homem português, considerado, por essa espécie de opressão, mais “tolerante” que outras nacionalidades de colonizadores.
A imagem da mulher negra e indígena vem sendo veiculada, ao longo destes 508 anos de
história, com base em um paradigma, que é o da inferioridade e desconstituição de sua
humanidade. Como desdobramento desse paradigma, podemos elencar inúmeros prejuízos.
A discriminação resultante da utilização destes estereótipos está não somente na violência simbólica contra a mulher; há ainda que se considerar os efeitos deste paradigma no que se refere à violência física e psicológica, concretizada nos números do tráfico de seres humanos, da violência sexual, doméstica e infra-familiar contra meninas e mulheres.
Tais formas de violência traduzem o sentido de dominação sobre o corpo feminino, um sentido que surge cinicamente na publicidade em geral e nas novelas e se concretiza na crença da superioridade masculina que resulta nos espancamentos, assédios e abusos sexuais, representando o poder que se busca impor através da satisfação dos interesses, desejos ou dos conflitos doentios dos algozes, sejam eles sexuais ou emocionais, mas também dos cidadãos e cidadãs comuns que constroem suas identidades, expectativas e desejos num dos únicos espaços em que têm acesso a outras linguagens e expressões culturais além daquelas da sua comunidade, que é através da mídia de massa. Repetidamente expostos a essas idéias, têm um potencial maior para repetirem esses mesmos valores.
Da mesma forma, esse paradigma confirma a naturalização das desigualdades de gênero que, articuladas às desigualdades raciais, se apresentam nas assimetrias quanto aos direitos sociais, econômicos e culturais, das quais o segmento mais vulnerabilizado pela fragilidade das instituições garantidoras do acesso à justiça é, sem sombra de dúvidas, o segmento de mulheres negras.
FONTE: OBSERVATÓRIO DO NEGRO.
A imagem e o comentário acima foi retirado da obra intitulada “Casa Grande & Senzala em Quadrinhos”. Trata-se de uma versão juvenil e facilitada,republicada no ano de 2005 pela Fundação Gilberto Freyre e Global Editora.
A VERSÃO EM QUADRINHOS DO LIVRO É UTILIZADA EM DIVERSAS ESCOLAS DO PAÍS.
O livro em quadrinhos se propõe a reproduzir uma visão distorcida e discriminatória da História do Brasil, perpetuando uma interpretação centrada no olhar da Casa Grande e invisibilizando a participação política, intelectual e econômica da população negra e indígena pela própria versão desses sujeitos.
As imagens e frases reproduzem, de forma simplória e equivocada, o mito da democracia racial, que, por meio de um processo de revisionismo, desconsidera a opressão, tortura e exploração ocorridas na escravidão colonial, escamoteia e naturaliza os processos de violência física e simbólica sobre crianças, mulheres e homens negros e indígenas. Chegam ao extremo de dar explicações inacreditáveis às práticas de tortura contra escravizados/as.
Naturalização da opressão e violência contra as mulheres negras e indígenas
Na obra contestada, o recurso à imagem potencializa exponencialmente os efeitos danosos da argumentação que, em si mesma, pode ser considerada um libelo racista e sexista: são imagens plasticamente perfeitas, atrativas, que corporificam visualmente as idéias que o texto
apenas sugere.
Ora, a carga simbólica que trazem os desenhos de mulheres negras e indígenas nuas ao lado de homens e mulheres brancas vestidos, e que mostram crianças negras “montadas” por crianças brancas, e outras imagens de igual teor, vem ao encontro de um imaginário nacional em que mulheres negras e indígenas são desconsideradas em sua dignidade humana, reforçando o caráter de objeto sexual e de despersonalização com que o processo de formação nacional as tratou, justificando este imaginário.
A relação de poder estabelecida sobre mulheres indígenas, que se trata hoje do reconhecimento histórico exigido pelos movimentos indígenas brasileiros, é distorcida de tal modo a representar os corpos das índias ressaltando uma suposta “sensualidade natural”, criando modelos idealizados das mesmas que, pela idéia transcrita no texto, se submetiam como objetos de desejo sexual do colonizador.
Da mesma forma, as mulheres negras são descritas como seres de sexualidade ativa e tão-somente objetos de prazer do homem português, considerado, por essa espécie de opressão, mais “tolerante” que outras nacionalidades de colonizadores.
A imagem da mulher negra e indígena vem sendo veiculada, ao longo destes 508 anos de
história, com base em um paradigma, que é o da inferioridade e desconstituição de sua
humanidade. Como desdobramento desse paradigma, podemos elencar inúmeros prejuízos.
A discriminação resultante da utilização destes estereótipos está não somente na violência simbólica contra a mulher; há ainda que se considerar os efeitos deste paradigma no que se refere à violência física e psicológica, concretizada nos números do tráfico de seres humanos, da violência sexual, doméstica e infra-familiar contra meninas e mulheres.
Tais formas de violência traduzem o sentido de dominação sobre o corpo feminino, um sentido que surge cinicamente na publicidade em geral e nas novelas e se concretiza na crença da superioridade masculina que resulta nos espancamentos, assédios e abusos sexuais, representando o poder que se busca impor através da satisfação dos interesses, desejos ou dos conflitos doentios dos algozes, sejam eles sexuais ou emocionais, mas também dos cidadãos e cidadãs comuns que constroem suas identidades, expectativas e desejos num dos únicos espaços em que têm acesso a outras linguagens e expressões culturais além daquelas da sua comunidade, que é através da mídia de massa. Repetidamente expostos a essas idéias, têm um potencial maior para repetirem esses mesmos valores.
Da mesma forma, esse paradigma confirma a naturalização das desigualdades de gênero que, articuladas às desigualdades raciais, se apresentam nas assimetrias quanto aos direitos sociais, econômicos e culturais, das quais o segmento mais vulnerabilizado pela fragilidade das instituições garantidoras do acesso à justiça é, sem sombra de dúvidas, o segmento de mulheres negras.
FONTE: OBSERVATÓRIO DO NEGRO.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Carta aberta à Revista TRIP
Certamente a carta à Luisa, dita fictícia e publicada pela revista Trip, não foi meramente postada ao acaso. Situações como esta, na qual as mulheres são vistas como mero objeto descartável, são cotidianas na sociedade brasileira.
Culturalmente no imaginário social, os valores negativos que se atribuem à mulher são naturalizados permitindo que práticas machistas e racistas sejam legitimadas no âmbito público e privado. A carta vem reforçar atos discriminatórios que atingem a integridade física, psicológica e moral da mulher, que neste caso tange especialmente a mulher negra, visto que estas são as que historicamente constituem o quadro de empregadas domésticas em nosso país.
As idéias contidas na carta propiciam que discurso e atos machistas e racistas tomem maiores dimensões, haja vista que os próprios meios de comunicação legitimam a perpetuação da desvalorização do ser mulher. Desta forma, demonstramos nosso total repúdio ao colunista Henrique Goldman e a revista Trip por pactuarem com a violência contra a mulher, desconsiderando a luta das mulheres em todo o Brasil por condições igualitárias de gênero e de raça.
Diante do exposto, exigimos da Revista Trip e de seu colunista uma retratação pública e oficial na qual as declarações feitas na matéria sejam reconhecidas como abusivas, visto que a ficção demonstra aquilo que se constrói nas mentes dos indivíduos sobre a realidade.
PÉROLAS NEGRAS - Núcleo de Estudantes Negras da Ufba.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
UMA CENA COTIDIANA
Extraído de:
http://www.correionago.com.br/destaques.php?inot=169
Um taxista, motivado pelo racismo, simula uma tentativa de assalto, acusando os passageiros - três jovens negros - e despertando a atenção de uma viatura da Polícia Civil de onde saem três policiais armados que, antes de qualquer esclarecimento, xingam e agridem os jovens, deixando, inclusive, um deles nú em via pública. Na delegacia para onde foram levados, mais uma sucessão de humilhações e desrespeitos. O que era para ser um fim de festa tranqüilo para os amigos, Ítala Correia, Saturnino Silva e Henrique dos Santos, virou um pesadelo que tem custado sair da lembrança dos jovens.
Na madrugada de sábado para domingo, 26, após assistirem ao show da Banda Lampirônicos, no Centro Histórico de Salvador, os jovens, todos moradores do bairro da Boca do Rio, resolveram pegar um táxi, para garantir mais conforto e segurança na volta para casa. Ledo engano. Entraram no Corsa JRA 1505, do taxista César Augusto da Silva Purificação Santos, de 49 anos (Alvará A-1753), no Terreiro de Jesus. Próximo dali, após passar pelo Campo da Pólvora, o motorista iniciou uma crise de pânico, gritando e demonstrando medo.
A princípio, os jovens tentaram acalmar o taxista, pois pensaram se tratar de algum repentino problema de saúde. No início da Ladeira da Fonte Nova, o motorista, ao avistar uma viatura – um Eco Sport da Delegacia do Adolescente Infrator / DAI, parou o taxi e saiu gritando que estava sendo assaltado. 'Até então, ainda não entendíamos o que estava ocorrendo. Primeiro pensamos que ele passava mal, estava tendo uma crise de epilepsia. Depois pensamos que o carro estava sendo assaltado por alguém que estava do lado de fora. Foi uma tensão terrível', explica com tristeza a produtora cultural Ítala Correia, de 21 anos.
Quando os jovens conseguiram sair do carro, já que o motorista havia travado todas as portas, já encontraram três policiais com armas em punho apontadas para eles. 'A partir daí foi muito xingamento, humilhação. Revistaram minha amiga de forma abusiva, levantando a roupa dela e xingando-a de puta, vagabunda e outros palavrões. Tive que ficar nú em plena rua', relembra o garçom, Saturnino Silva, de 30 anos.
Na confusão para sair do carro, Ítala caiu e bateu o queixo no chão. Mesmo sangrando, a jovem continuou a ser agredida verbalmente pelos policiais, atendendo ao desespero do taxista que continuava afirmando que os jovens o assaltariam. A jovem foi atendida no 5º Centro de Saúde, no Vale dos Barris, e levou cinco pontos no queixo, além de apresentar manchas roxas pelo corpo.'Como eu já sai do carro correndo, pois achava que nós é que seríamos assaltados, os policias apontaram a arma para mim e chegaram a engatilhar. Tive que me jogar no chão. Por pouco não fui morto', conta o jogador de basquete Henrique dos Santos, de 28 anos, que havia participado, na manhã de sábado, do campeonato de Basquete de Rua, promovido pela Central Única das Favelas – CUFA. Policiais da 1º Delegacia, no Complexo dos Barris, alegaram que a roupa do esportista (camisa e bermuda largas), foram as razões para despertar o medo no taxista.
'Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês, era o que dizia um dos policiais que nos atenderam na Delegacia, justificando a ação do taxista', conta Henrique.
Os jovens acreditam que a ação policial, ainda na Ladeira da Fonte Nova, só não foi pior porque o tio de Ítala, o comerciante do Pelourinho, Wilson Santos, também morador da Boca do Rio, conduzia seu automóvel, junto com a esposa, e acompanhava o táxi que levava os jovens. Ao ver a movimentação policial, Wilson soltou do carro e se colocou na frente dos agentes, entre as armas e os jovens, tentando convencer os policiais do equívoco que ocorria.
No Boletim de Ocorrência, assinado pelo agente Júlio César dos Santos Batista, está descrita a calúnia e simulação de assalto, com a alegação do taxista de que 'os jovens fizeram movimentos bruscos dentro do carro'. Os amigos explicam que o próprio motorista perguntou se havia alguma porta aberta e todos foram verificar, respondendo negativamente. Depois disso, o condutor travou todas as portas e iniciou o desespero repentino.
Os três jovens já deram queixas em todas as instâncias que tiveram acesso: como o Disk Racismo, a Gerência de Táxi da Prefeitura de Salvador – GETAXI e o Procon, ainda restando ir à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público. Eles esperam que a ação preconceituosa do taxista e a abordagem abusiva dos policiais não fiquem impunes. 'Somos jovens de bem, trabalhamos, não usávamos drogas, nem estávamos cometendo nenhum delito.
Toda a suspeita e agressão foram motivadas pela nossa cor, nossos cabelos. É um absurdo que ainda tenhamos que conviver com atitudes como essa', revoltasse Ítala. 'Poderíamos estar todos mortos. Aí seria alegado que estávamos envolvidos com o tráfico de drogas. Já imagino as manchetes: Tentativa de assalto termina com morte de três assaltantes' , assustasse Saturnino, referindo-se às práticas constantes no noticiário baiano, quando se trata do assassinado de jovens negros da periferia.
(André Santana)
http://www.correionago.com.br/destaques.php?inot=169
Um taxista, motivado pelo racismo, simula uma tentativa de assalto, acusando os passageiros - três jovens negros - e despertando a atenção de uma viatura da Polícia Civil de onde saem três policiais armados que, antes de qualquer esclarecimento, xingam e agridem os jovens, deixando, inclusive, um deles nú em via pública. Na delegacia para onde foram levados, mais uma sucessão de humilhações e desrespeitos. O que era para ser um fim de festa tranqüilo para os amigos, Ítala Correia, Saturnino Silva e Henrique dos Santos, virou um pesadelo que tem custado sair da lembrança dos jovens.
Na madrugada de sábado para domingo, 26, após assistirem ao show da Banda Lampirônicos, no Centro Histórico de Salvador, os jovens, todos moradores do bairro da Boca do Rio, resolveram pegar um táxi, para garantir mais conforto e segurança na volta para casa. Ledo engano. Entraram no Corsa JRA 1505, do taxista César Augusto da Silva Purificação Santos, de 49 anos (Alvará A-1753), no Terreiro de Jesus. Próximo dali, após passar pelo Campo da Pólvora, o motorista iniciou uma crise de pânico, gritando e demonstrando medo.
A princípio, os jovens tentaram acalmar o taxista, pois pensaram se tratar de algum repentino problema de saúde. No início da Ladeira da Fonte Nova, o motorista, ao avistar uma viatura – um Eco Sport da Delegacia do Adolescente Infrator / DAI, parou o taxi e saiu gritando que estava sendo assaltado. 'Até então, ainda não entendíamos o que estava ocorrendo. Primeiro pensamos que ele passava mal, estava tendo uma crise de epilepsia. Depois pensamos que o carro estava sendo assaltado por alguém que estava do lado de fora. Foi uma tensão terrível', explica com tristeza a produtora cultural Ítala Correia, de 21 anos.
Quando os jovens conseguiram sair do carro, já que o motorista havia travado todas as portas, já encontraram três policiais com armas em punho apontadas para eles. 'A partir daí foi muito xingamento, humilhação. Revistaram minha amiga de forma abusiva, levantando a roupa dela e xingando-a de puta, vagabunda e outros palavrões. Tive que ficar nú em plena rua', relembra o garçom, Saturnino Silva, de 30 anos.
Na confusão para sair do carro, Ítala caiu e bateu o queixo no chão. Mesmo sangrando, a jovem continuou a ser agredida verbalmente pelos policiais, atendendo ao desespero do taxista que continuava afirmando que os jovens o assaltariam. A jovem foi atendida no 5º Centro de Saúde, no Vale dos Barris, e levou cinco pontos no queixo, além de apresentar manchas roxas pelo corpo.'Como eu já sai do carro correndo, pois achava que nós é que seríamos assaltados, os policias apontaram a arma para mim e chegaram a engatilhar. Tive que me jogar no chão. Por pouco não fui morto', conta o jogador de basquete Henrique dos Santos, de 28 anos, que havia participado, na manhã de sábado, do campeonato de Basquete de Rua, promovido pela Central Única das Favelas – CUFA. Policiais da 1º Delegacia, no Complexo dos Barris, alegaram que a roupa do esportista (camisa e bermuda largas), foram as razões para despertar o medo no taxista.
'Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês, era o que dizia um dos policiais que nos atenderam na Delegacia, justificando a ação do taxista', conta Henrique.
Os jovens acreditam que a ação policial, ainda na Ladeira da Fonte Nova, só não foi pior porque o tio de Ítala, o comerciante do Pelourinho, Wilson Santos, também morador da Boca do Rio, conduzia seu automóvel, junto com a esposa, e acompanhava o táxi que levava os jovens. Ao ver a movimentação policial, Wilson soltou do carro e se colocou na frente dos agentes, entre as armas e os jovens, tentando convencer os policiais do equívoco que ocorria.
No Boletim de Ocorrência, assinado pelo agente Júlio César dos Santos Batista, está descrita a calúnia e simulação de assalto, com a alegação do taxista de que 'os jovens fizeram movimentos bruscos dentro do carro'. Os amigos explicam que o próprio motorista perguntou se havia alguma porta aberta e todos foram verificar, respondendo negativamente. Depois disso, o condutor travou todas as portas e iniciou o desespero repentino.
Os três jovens já deram queixas em todas as instâncias que tiveram acesso: como o Disk Racismo, a Gerência de Táxi da Prefeitura de Salvador – GETAXI e o Procon, ainda restando ir à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público. Eles esperam que a ação preconceituosa do taxista e a abordagem abusiva dos policiais não fiquem impunes. 'Somos jovens de bem, trabalhamos, não usávamos drogas, nem estávamos cometendo nenhum delito.
Toda a suspeita e agressão foram motivadas pela nossa cor, nossos cabelos. É um absurdo que ainda tenhamos que conviver com atitudes como essa', revoltasse Ítala. 'Poderíamos estar todos mortos. Aí seria alegado que estávamos envolvidos com o tráfico de drogas. Já imagino as manchetes: Tentativa de assalto termina com morte de três assaltantes' , assustasse Saturnino, referindo-se às práticas constantes no noticiário baiano, quando se trata do assassinado de jovens negros da periferia.
(André Santana)
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
sábado, 6 de setembro de 2008
sábado, 30 de agosto de 2008
MULHER NEGRA UMA OUTRA HISTÓRIA
Pouco mais de cinqüenta anos nos separam da universal declaração de direitos ao que é humano.
Pouco mais de um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.
Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem afetividade.
Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência: a de gênero, privada, no lar; a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria; e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.
Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.
É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.
Alzira Rufino.
Pouco mais de um século nos separa do tempo e espaço em que, como escravas, não éramos donas de nossa fala, nosso corpo, nosso destino.
Ainda hoje tentam nos negar qualquer vida psicológica e intelectual, exibem nosso corpo colonizado pelas fantasias sexuais mais secretas - um corpo sem afetividade.
Se a violência contra a mulher é uma epidemia que desconhece classes sociais, existem segmentos que são mais vulneráveis porque já têm uma outra história de violência, como é o das mulheres negras, sob fogo cruzado de várias formas de violência: a de gênero, privada, no lar; a da pobreza, que as escraviza a jornadas de trabalho intermináveis das quais não sobrará sequer a mínima aposentadoria; e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaço que vai do fogão ao tanque, domesticadas, no fundo de cena.
Alguns fatores nos tornam sujeito de direitos diferenciados, ou de não-direitos. Coisas de um passado muito próximo, ainda à flor da pele.
É pelas raízes numa história e numa cultura que não são as mesmas das mulheres brancas, que nós, mulheres negras não nos identificamos tanto com os estereótipos de fragilidade, de submissão e dependência associadas à figura feminina.
Alzira Rufino.
sábado, 23 de agosto de 2008
UFBA: Espaço machista
Em meio aos fatos ocorridos, depois de Antônio Natalino Dantas, o vice-reitor da Universidade Federal da Bahia é mais um a demonstrar o verdadeiro pensamento dos que administram a instituição Ufba, um espaço racista, machista e sexista.
A resposta de Francisco Mesquita ao caso de violência sexual sofrido por uma estudante do curso de Dança da Ufba foi que "a vítima estava em condições propícias para o ocorrido".
Essa é a realidade da sociedade como um todo e que se faz presente também no mundo acadêmico, onde as mulheres são vítimas diariamente do machismo. "Nós estamos por nossa própria conta".
Repudiamos essa e quaisquer atitude de caráter sexista. Lamentamos muito o ocorrido e esperamos que medidas cabíveis sejam tomadas pela administração central da Universidade Federal da Bahia.
Eu-Mulher
Conceição Evaristo
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inaugura a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo
Antecipo
Antes-vivo
Antes-agora-o que há de vir.
Eu fêmea matriz
Eu força motriz
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-continuo
do mundo.
A resposta de Francisco Mesquita ao caso de violência sexual sofrido por uma estudante do curso de Dança da Ufba foi que "a vítima estava em condições propícias para o ocorrido".
Essa é a realidade da sociedade como um todo e que se faz presente também no mundo acadêmico, onde as mulheres são vítimas diariamente do machismo. "Nós estamos por nossa própria conta".
Repudiamos essa e quaisquer atitude de caráter sexista. Lamentamos muito o ocorrido e esperamos que medidas cabíveis sejam tomadas pela administração central da Universidade Federal da Bahia.
Eu-Mulher
Conceição Evaristo
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inaugura a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo
Antecipo
Antes-vivo
Antes-agora-o que há de vir.
Eu fêmea matriz
Eu força motriz
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-continuo
do mundo.
domingo, 17 de agosto de 2008
4ª edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero
Estão abertas as inscrições para a 4ª edição do Prêmio Construindo a
Igualdade de Gênero, uma parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Educação (MEC) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, parte integrante do Programa Mulher e Ciência, é uma proposta que busca estabelecer as bases para mudanças culturais profundas e um mundo de plena eqüidade de gênero. O Prêmio tem como objetivo estimular a produção científica e a reflexão sobre as relações de gênero no país e promover a participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas.
Estudantes do ensino médio e de graduação e de pós-graduação podem participar. As alunas e alunos do ensino médio premiadas(os) recebem computadores e bolsas de Iniciação Científica Júnior. As(os) estudantes de graduação recebem R$ 5 mil e bolsas de Iniciação Científica, enquanto as/os premiadas/os da categoria graduado recebem R$ 10 mil e bolsas de Mestrado ou Doutorado do CNPq.
As instituições a que pertençam as alunas e alunos do ensino médio premiadas/os recebem um computador, no valor estimado de R$ 2,5 mil, e uma assinatura anual dos Cadernos Pagu e da Revista Estudos Feministas.
As inscrições estendem-se até o dia 31 de outubro de 2008 e deverão ser feitas por meio do site www.igualdadedegenero.cnpq.br ou pelos Correios, para os seguintes endereços:
Categorias Graduado e Estudante de Graduação: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Serviço de Prêmios - 4º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, SEPN 507, Sala 203 - Brasília - DF - CEP 70740-901.
Categoria Estudante do Ensino Médio: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM/PR) - 4º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - Esplanada dos Ministérios - Bloco L - Edifício Sede - sala 200, 2º andar - Brasília - DF. - CEP 70.047-900
Informações complementares sobre o prêmio podem ser obtidas pelos
e-mails:
Categorias Estudante de Graduação e Graduado - premios@cnpq.br
Categoria Estudante do Ensino Médio - mulhereciencia@spmulheres.gov.br
Igualdade de Gênero, uma parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Educação (MEC) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, parte integrante do Programa Mulher e Ciência, é uma proposta que busca estabelecer as bases para mudanças culturais profundas e um mundo de plena eqüidade de gênero. O Prêmio tem como objetivo estimular a produção científica e a reflexão sobre as relações de gênero no país e promover a participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas.
Estudantes do ensino médio e de graduação e de pós-graduação podem participar. As alunas e alunos do ensino médio premiadas(os) recebem computadores e bolsas de Iniciação Científica Júnior. As(os) estudantes de graduação recebem R$ 5 mil e bolsas de Iniciação Científica, enquanto as/os premiadas/os da categoria graduado recebem R$ 10 mil e bolsas de Mestrado ou Doutorado do CNPq.
As instituições a que pertençam as alunas e alunos do ensino médio premiadas/os recebem um computador, no valor estimado de R$ 2,5 mil, e uma assinatura anual dos Cadernos Pagu e da Revista Estudos Feministas.
As inscrições estendem-se até o dia 31 de outubro de 2008 e deverão ser feitas por meio do site www.igualdadedegenero.cnpq.br ou pelos Correios, para os seguintes endereços:
Categorias Graduado e Estudante de Graduação: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Serviço de Prêmios - 4º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, SEPN 507, Sala 203 - Brasília - DF - CEP 70740-901.
Categoria Estudante do Ensino Médio: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM/PR) - 4º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - Esplanada dos Ministérios - Bloco L - Edifício Sede - sala 200, 2º andar - Brasília - DF. - CEP 70.047-900
Informações complementares sobre o prêmio podem ser obtidas pelos
e-mails:
Categorias Estudante de Graduação e Graduado - premios@cnpq.br
Categoria Estudante do Ensino Médio - mulhereciencia@spmulheres.gov.br
sábado, 16 de agosto de 2008
Elisa Lucinda (Mulata Exportação)
“Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!
(Da série “Brasil, meu espartilho”)
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!
(Da série “Brasil, meu espartilho”)
Era uma vez
Como todas as outras vezes
Que foram somadas ao menos
Vesti-me de Cinderela
Com sapatinhos de couro
Cheirinho de alfazema
Vestida de branco em plena sexta-feira
Sem cavalos e sem espadas
Corro atrás daquela torre
Na Mussurunga 307
Sem reboco e sem piso
Rapunzel?!
Jogue suas tranças minha nega
Nada de timidez
Isso aqui não é mais um conto
Preta lésbica e ponto.
Aboyumi
Como todas as outras vezes
Que foram somadas ao menos
Vesti-me de Cinderela
Com sapatinhos de couro
Cheirinho de alfazema
Vestida de branco em plena sexta-feira
Sem cavalos e sem espadas
Corro atrás daquela torre
Na Mussurunga 307
Sem reboco e sem piso
Rapunzel?!
Jogue suas tranças minha nega
Nada de timidez
Isso aqui não é mais um conto
Preta lésbica e ponto.
Aboyumi
Ao tentarmos entender a educação destacamos todos os pontos negativos que ela tem, inclusive hoje se tornou hobby falar dos seus pontos negativos; péssima estrutura,incompetência do corpo docente e indisciplinas dos discentes.
Fatos consumados e com vasta literatura, entretanto diagnosticar esta instituição sem fazer referência a que sociedade ela está contida torna-se uma verdade sem fundamentos.
Qual sociedade então nós queremos? Quais máscaras irão usar no século das máquinas que tem sentimento? O que vamos ensinar nas escolas? O que é ético na escola? Quais verdades têm que ser omitida? Temos ou não seriedade no ato de ensinar?
Bem desculpe não ir de encontro as suas expectativas, mas não sou auto - ajuda, não tenho respostas, só péssimas perguntas que envolvem o papel de agente que uma educadora possui.
Coordenadas por um Estado que está comumente vinculado a uma economia capitalista onde se faz uma exploração na dominação do individuo, a tendência predominante é a de fornecer informações e um tipo de mentalidade de pensamento que não favorecem uma
percepção crítica da realidade.
Quando falamos da sociedade capitalista e do Estado, estamos falando de uma perspectiva de análise que enfatiza a dimensão econômica e política. Isso pressupõe que as relações de poder se configuram nessa macroestrutura econômica e política.
E essas mesmas lógicas de dominação vão se reproduzindo nas micro relações, nas relações de diferentes instituições político-sociais. Então existe uma concepção de poder que vai do macro para o micro, do alto para baixo.
A arte educar têm que ir além do alto para baixo ou da concepção maniqueísta de poder, se temos está sociedade não criaremos uma que possua um bolo metafórico que incha e depois divide, sem bolos porquê farinha de trigo está caro, a sociedade que nós temos como proposta, tem que ser mais solidária, menos competitiva, resumindo menos rede Globo.
A escola ainda é o principal foco de organização, sistematização e transmissão do conhecimento e o educador e o educando, os principais agentes nesse processo, embora divida a tarefa de educar com outros núcleos sociais, como a família, as comunidades e os meios de comunicação. A relação entre educação, escola e sociedade é alvo de uma transformação contínua, que influencia os modelos vigentes de educação, de escola e de sociedade. O desenvolvimento da escola guarda estrita relação com o desenvolvimento da sociedade e vice-versa. É através do conhecimento, do domínio da ciência e do desenvolvimento tecnológico que o homem adquire
meios para compreender e transformar.
No mundo em que vivemos a geração da riqueza está profundamente relacionada à capacidade de produzir conhecimento e tecnologia. Como conseqüência, a escola assume um papel vital no desenvolvimento socioeconômico de uma nação. Facilitador no processo de transmissão do conhecimento, o educador tem também a missão de colaborar para a formação dos valores e de uma base ética que oriente o uso correto do saber científico, estético e tecnológico. Em um mundo com fronteiras cada vez menos definidas, passamos a conviver com novos conceitos histórico-geográficos, culturais, econômicos e comerciais.
Diante disso, os horizontes da escola devem expandir-se na mesma proporção, trabalhando com realidades mais amplas e fazendo-se mais presente na comunidade em que está inserida.
Referência:
Matias, Reinaldo. Educar para quê?
Contra o autoritarismo da relação pedagógica na escola.
Fatos consumados e com vasta literatura, entretanto diagnosticar esta instituição sem fazer referência a que sociedade ela está contida torna-se uma verdade sem fundamentos.
Qual sociedade então nós queremos? Quais máscaras irão usar no século das máquinas que tem sentimento? O que vamos ensinar nas escolas? O que é ético na escola? Quais verdades têm que ser omitida? Temos ou não seriedade no ato de ensinar?
Bem desculpe não ir de encontro as suas expectativas, mas não sou auto - ajuda, não tenho respostas, só péssimas perguntas que envolvem o papel de agente que uma educadora possui.
Coordenadas por um Estado que está comumente vinculado a uma economia capitalista onde se faz uma exploração na dominação do individuo, a tendência predominante é a de fornecer informações e um tipo de mentalidade de pensamento que não favorecem uma
percepção crítica da realidade.
Quando falamos da sociedade capitalista e do Estado, estamos falando de uma perspectiva de análise que enfatiza a dimensão econômica e política. Isso pressupõe que as relações de poder se configuram nessa macroestrutura econômica e política.
E essas mesmas lógicas de dominação vão se reproduzindo nas micro relações, nas relações de diferentes instituições político-sociais. Então existe uma concepção de poder que vai do macro para o micro, do alto para baixo.
A arte educar têm que ir além do alto para baixo ou da concepção maniqueísta de poder, se temos está sociedade não criaremos uma que possua um bolo metafórico que incha e depois divide, sem bolos porquê farinha de trigo está caro, a sociedade que nós temos como proposta, tem que ser mais solidária, menos competitiva, resumindo menos rede Globo.
A escola ainda é o principal foco de organização, sistematização e transmissão do conhecimento e o educador e o educando, os principais agentes nesse processo, embora divida a tarefa de educar com outros núcleos sociais, como a família, as comunidades e os meios de comunicação. A relação entre educação, escola e sociedade é alvo de uma transformação contínua, que influencia os modelos vigentes de educação, de escola e de sociedade. O desenvolvimento da escola guarda estrita relação com o desenvolvimento da sociedade e vice-versa. É através do conhecimento, do domínio da ciência e do desenvolvimento tecnológico que o homem adquire
meios para compreender e transformar.
No mundo em que vivemos a geração da riqueza está profundamente relacionada à capacidade de produzir conhecimento e tecnologia. Como conseqüência, a escola assume um papel vital no desenvolvimento socioeconômico de uma nação. Facilitador no processo de transmissão do conhecimento, o educador tem também a missão de colaborar para a formação dos valores e de uma base ética que oriente o uso correto do saber científico, estético e tecnológico. Em um mundo com fronteiras cada vez menos definidas, passamos a conviver com novos conceitos histórico-geográficos, culturais, econômicos e comerciais.
Diante disso, os horizontes da escola devem expandir-se na mesma proporção, trabalhando com realidades mais amplas e fazendo-se mais presente na comunidade em que está inserida.
Referência:
Matias, Reinaldo. Educar para quê?
Contra o autoritarismo da relação pedagógica na escola.
Carta divulgada pelo Pérolas Negras - Núcleo de Estudantes Negras da UFBA no dia 20 de novembro de 2007
CARTA À DANDARA
Querida Dandara,
Esta carta aberta vem com atraso, sabemos disso, mas é necessário ratificar que nunca estivemos mortas e, apesar de estarmos nas lutas feministas e do movimento negro e sermos invisibilizadas, nunca fomos agentes passivas.
Reconhecemos no 20 de novembro - e durante todos os dias de nossas vidas - a sua luta em Palmares. E é essa luta que nos serve de seiva para enfrentarmos os racismos e o machismo cotidiano. Dandara e dandaras... Lindas pérolas negras que existem e se afirmam mesmo diante da imposição de uma invisibilidade social e histórica.
Sem negar a importância de Zumbi, estamos aqui minha preta, para afirmar que a consciência negra se constrói a partir da valorização das nossas irmãs de África. Mais do que companheira de Zumbi na luta pela nossa liberdade ainda não alcançada, você Dandara, representa a libertação das mulheres pretas dos estigmas e das negações que são impostas a cada momento em que seu nome é evocado.
Teu nome está presente em nossas mentes como força para resistirmos e reagirmos à discriminação no mercado de trabalho, à negação imposta pelos homens negros, brancos e pelas mulheres brancas, às retaliações que sofremos quando nos afirmamos esteticamente e intelectualmente - no modelo racista e sexista de educação.
Ah, Dandara... O nosso quilombo de mulheres pretas que lutam - e lutarão - ao lado de alguns dos seus irmãos pretos resiste. Ainda falando de negações e invisibilidade, não podemos nos esquecer de "nossa presença" na mídia. Aliás, Dandara, não estamos na mídia. Não estamos porque os pequenos papéis que são reservados aos homens e mulheres pretas não demonstram a força que nós temos. O que a mídia tenta fazer de nós, faz parte de um plano que tentar destruir nossas identidades em prol de estereótipos e estigmas de putas, burras, problemáticas...
E o pior Dandara, é que muitos daqueles que se dizem nossos irmãos nos vêem e nos entendem nesse espelho distorcido... Desse modo, vários deles nos negam e (se) afirmam nos padrões estéticos das mulheres brancas. Além disso tudo, nossas irmãs pretas lésbicas são excluídas e invisibilizadas do movimento negro, pois muitos de nossos irmãos não compreendem o triplo preconceito que a mulher negra sofre.
Dandara, terminamos esta carta com um abraço carinhoso, e um recado:
CONTINUAMOS DE PUNHOS CERRADOS, RESISTINDO SEMPRE!
Saudações,
Pérolas Negras
Núcleo de estudantes negras da UFBA
perolasnegrasufba@gmail.com
CARTA À DANDARA
Querida Dandara,
Esta carta aberta vem com atraso, sabemos disso, mas é necessário ratificar que nunca estivemos mortas e, apesar de estarmos nas lutas feministas e do movimento negro e sermos invisibilizadas, nunca fomos agentes passivas.
Reconhecemos no 20 de novembro - e durante todos os dias de nossas vidas - a sua luta em Palmares. E é essa luta que nos serve de seiva para enfrentarmos os racismos e o machismo cotidiano. Dandara e dandaras... Lindas pérolas negras que existem e se afirmam mesmo diante da imposição de uma invisibilidade social e histórica.
Sem negar a importância de Zumbi, estamos aqui minha preta, para afirmar que a consciência negra se constrói a partir da valorização das nossas irmãs de África. Mais do que companheira de Zumbi na luta pela nossa liberdade ainda não alcançada, você Dandara, representa a libertação das mulheres pretas dos estigmas e das negações que são impostas a cada momento em que seu nome é evocado.
Teu nome está presente em nossas mentes como força para resistirmos e reagirmos à discriminação no mercado de trabalho, à negação imposta pelos homens negros, brancos e pelas mulheres brancas, às retaliações que sofremos quando nos afirmamos esteticamente e intelectualmente - no modelo racista e sexista de educação.
Ah, Dandara... O nosso quilombo de mulheres pretas que lutam - e lutarão - ao lado de alguns dos seus irmãos pretos resiste. Ainda falando de negações e invisibilidade, não podemos nos esquecer de "nossa presença" na mídia. Aliás, Dandara, não estamos na mídia. Não estamos porque os pequenos papéis que são reservados aos homens e mulheres pretas não demonstram a força que nós temos. O que a mídia tenta fazer de nós, faz parte de um plano que tentar destruir nossas identidades em prol de estereótipos e estigmas de putas, burras, problemáticas...
E o pior Dandara, é que muitos daqueles que se dizem nossos irmãos nos vêem e nos entendem nesse espelho distorcido... Desse modo, vários deles nos negam e (se) afirmam nos padrões estéticos das mulheres brancas. Além disso tudo, nossas irmãs pretas lésbicas são excluídas e invisibilizadas do movimento negro, pois muitos de nossos irmãos não compreendem o triplo preconceito que a mulher negra sofre.
Dandara, terminamos esta carta com um abraço carinhoso, e um recado:
CONTINUAMOS DE PUNHOS CERRADOS, RESISTINDO SEMPRE!
Saudações,
Pérolas Negras
Núcleo de estudantes negras da UFBA
perolasnegrasufba@gmail.com
Assinar:
Postagens (Atom)