Em 17% das cidades brasileiras, a chance de um jovem negro ser assassinado pode supera em mais de cinco vezes a probabilidade de um jovem branco ser vítima de homicídio. A estimativa foi divulgada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, após um estudo feito sobre as causas de mortes entre adolescentes de 12 a 19 anos. A pesquisa foi realizada em 267 municípios brasileiros. Apesar de a média nacional indicar que dois jovens negros são assassinados para cada um branco, em alguns municípios a comparação se revela gritante. A maior diferença foi constatada na cidade de Rio Verde (GO), onde a chance de um adolescente negro ser morto é 40 vezes maior do que um branco.A coordenadora nacional do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, Márcia Soares, explicou que existe uma ligação direta das vítimas da violência com a classe social da qual elas fazem parte. “A maioria da população empobrecida é negra. Então, o risco de um negro ser abordado pela Polícia, nós sabemos disso, por uma questão histórica e social, é muito maior do que um branco. Portanto, o risco de morrer na mão da Polícia também é maior. São pessoas vulneráveis à violência, porque têm pouco poder aquisitivo, famílias pouco estruturadas, estão fora da escola e têm pouca possibilidade de profissionalização.”Segundo Márcia, até outubro, uma comissão nacional será montada para fazer avaliações locais sobre a morte dos jovens. O objetivo é descobrir com maior precisão o que acontece nos municípios mais violentos do país.De São Paulo, da Radioagência NP, Desirèe Luíse.22/07/09
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Chance de jovem negro ser assassinado é cinco vezes maior do que branco
Em 17% das cidades brasileiras, a chance de um jovem negro ser assassinado pode supera em mais de cinco vezes a probabilidade de um jovem branco ser vítima de homicídio. A estimativa foi divulgada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, após um estudo feito sobre as causas de mortes entre adolescentes de 12 a 19 anos. A pesquisa foi realizada em 267 municípios brasileiros. Apesar de a média nacional indicar que dois jovens negros são assassinados para cada um branco, em alguns municípios a comparação se revela gritante. A maior diferença foi constatada na cidade de Rio Verde (GO), onde a chance de um adolescente negro ser morto é 40 vezes maior do que um branco.A coordenadora nacional do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, Márcia Soares, explicou que existe uma ligação direta das vítimas da violência com a classe social da qual elas fazem parte. “A maioria da população empobrecida é negra. Então, o risco de um negro ser abordado pela Polícia, nós sabemos disso, por uma questão histórica e social, é muito maior do que um branco. Portanto, o risco de morrer na mão da Polícia também é maior. São pessoas vulneráveis à violência, porque têm pouco poder aquisitivo, famílias pouco estruturadas, estão fora da escola e têm pouca possibilidade de profissionalização.”Segundo Márcia, até outubro, uma comissão nacional será montada para fazer avaliações locais sobre a morte dos jovens. O objetivo é descobrir com maior precisão o que acontece nos municípios mais violentos do país.De São Paulo, da Radioagência NP, Desirèe Luíse.22/07/09
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Homem negro espancado, suspeito de roubar o próprio carro
www.afropress. com
A direção do Supermercado, questionada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP, afirma que tudo não passou de uma briga entre clientes.
O caso aconteceu na última sexta-feira (07/08) e está registrado no 5º DP de Osasco. O Boletim de Ocorrência - 4590 - assinado pelo delegado de plantão Arlindo Rodrigues Cardoso, porém, não revela tudo o que aconteceu entre as 22h22 de sexta e as 02h34 de sábado, quando Santana – um baiano há 10 anos em S. Paulo e que trabalha como Segurança na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, há oito anos - chegou a Delegacia, depois de ser atendido no Hospital Universitário da USP com o rosto bastante machucado, os dentes quebrados.
Ainda com fortes dores de cabeça e no ouvido e sangrando pelo nariz, ele procurou a Afropress, junto com a mulher – a também funcionária do Museu de Arte Contemporânea da USP, Maria dos Remédios do Nascimento Santana, 41 anos - para falar sobre as cenas de terror e medo que viveu. “Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus”.
Santana disse pode reconhecer os agressores e também pelo menos um dos policiais militares que atendeu a ocorrência – um PM de sobrenome Pina. “Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa, que não tem problema”, teria comentado Pina, assim que chegou para atender a ocorrência, quando Santana relatou que estava sendo vítima de um mal entendido.
Depois de colocar em dúvida a sua versão de que era o dono do próprio carro, a Polícia o deixou no estacionamento com a família sem prestar socorro, recomendando que, se quisesse, procurasse a Delegacia para prestar queixa.
Terror e medo
“Cheguei, estacionei e, como minha filha de dois anos, dormia no banco de trás, combinei com minha mulher, minha irmã e cunhado, que ficaria enquanto eles faziam compra. Logo em seguida notei movimentação estranha, e vi dois homens saindo depressa, enquanto o alarme de uma moto disparava, e o dono chegava, preocupado. Cheguei a comentar com ele: "acho que queriam levar sua moto". Dito isso, continuei, mas já fora do carro, porque notei movimentação estranha de vários homens, que passaram a rodear, alguns com moto. Achei que eram bandidos que queriam levar a moto de qualquer jeito e passei a prestar a atenção”, relata.
À certa altura, um desses homens – que depois viria a identificar como segurança – se aproximou e sacou a arma. Foi o instinto e o treinamento de segurança, acrescenta, que o fez se proteger atrás de uma pilastra para não ser atingido e, em seguida, sair correndo em zigue-zague, já dentro do supermercado. “Eu não sabia, se era Polícia ou um bandido querendo me acertar”, contou.
Os dois entraram em luta corporal, enquanto as pessoas assustadas buscavam a saída. “Na minha mente, falei: meu Deus. Vou morrer agora. Eu vi essa cena várias vezes. E pedia a Deus que ele gritasse Polícia ou dissesse é um assalto. Ele não desistia de me perseguir. Nós caímos no chão, ele com um revólver cano longo. Meu medo era perder a mão dele e ele me acertar.
Enquanto isso, a mulher, a irmã, Luzia, o cunhado José Carlos, e o filho Samuel de cinco anos, faziam compras sem nada saber. "Diziam que era uma assalto", acrescenta Maria dos Remédios.
Segundo Januário, enquanto estava caído, tentando evitar que o homem ficasse em condições de acertar sua cabeça, viu que pessoas se aproximavam. "Eu podia ver os pés de várias pessoas enquanto estava no chão. É a segurança do Carrefour, alguém gritou. Eu falei: Graças a Deus, estou salvo. Tô em casa, graças a Deus. Foi então que um pisou na minha cabeça, e já foi me batendo com um soco. Eu dizia: houve um mal entendido. Eu também sou segurança. Disseram: vamos ali no quartinho prá esclarecer. Pegaram um rádio de comunicação e deram com força na minha cabeça. Assim que entrei um deles falou: estava roubando o EcoSport e puxando moto, né? Começou aí a sessão de tortura, com cabeçadas, coronhadas e testadas", continuou.
Sessão de torturas
“A sessão de torturas demorou de 15 a 20 minutos. Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus, Jesus. Sangrava muito. Toda vez que falava “Meu Deus”, ouvia de um deles. Cala a boca seu neguinho. Se não calar a boca eu vou te quebrar todo. Eles iam me matar de porrada", conta.
Santana disse que eram cerca de cinco homens que se revezavam na sessão de pancadaria. “Teve um dos murros que a prótese ficou em pedaços. Eu tentava conversar. Minha criança está no carro. Minha esposa está fazendo compras, não adiantava, porque eles continuaram batendo. Não desmaiei, mas deu tontura várias vezes. Eu queria sentar, mas eles não deixavam e não paravam de bater de todo jeito".
A certa altura Januário disse ter ouvido alguém anunciar: a Polícia chegou, sendo informada de que o caso era de um negro que tentava roubar um EcoSport. “Eles disseram que eu estava roubando o meu carro. E eu dizia: o carro é meu. Deram risada.”
A Polícia e o suspeito padrão
A chegada da viatura com três policiais fez cessar os espancamentos, porém, não as humilhações. “Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema”, comentou um dos policiais militares, enquanto os seguranças desapareciam.
O policial não deu crédito a informação e fez um teste: “Qual é o primeiro procedimento do segurança?”. Tonto, Januário, Santana disse ter respondido: “o primeiro procedimento é proteger a própria vida para poder proteger a vida de terceiros”.
Foi depois disso que conseguiu que fosse levado pelos policiais até o carro e encontrou a filha Ester, de dois anos, ainda dormindo e a mulher, a irmã e o filho, atraídos pela confusão e pelos boatos de que a loja estava sendo assaltada. “Acho que pela dor, ele se deitou no chão. Estava muito machucado, isso tudo na frente do meu filho”, conta Maria dos Remédios.
Sem socorro
Depois de conferirem a documentação do carro, que está em nome dela, os policiais deixaram o supermercado. “Daqui a pouco vem o PS do Carrefour. Depois se quiserem deem queixa e processem o Carrefour”, disse o soldado.
Em choque e sentindo muitas dores, o funcionário da USP conseguiu se levantar e dirigir até o Hospital Universitário onde chegou com cortes profundos na boca e no nariz. “Estou sangrando até hoje. Quando bate frio, dói. Tenho medo de ficar com seqüelas”, afirmou.
A mulher disse que o EcoSport, que está sendo pago em 72 parcelas de R$ 789,00, vem sendo fonte de problemas para a família desde que foi comprado há dois anos. “Toda vez que ele sai a Polícia vem atrás de mim. Esse carro é seu? Até no serviço a Polícia já me abordaram. Meu Deus, é porque ele é preto que não pode ter um carro EcoSport?”, se pergunta.
Ainda desorientado, Santana disse que tem medo. “Eu estou com vários traumas. Se tem alguém atrás de mim, eu paro. Como se estivesse sendo perseguido. Durante a noite toda a hora acordo com pesadelo. Como é que não fazem com pessoas que fizeram alguma coisa. Acho que eles matam a pessoa batendo”, concluiu.
sábado, 15 de agosto de 2009
O DESNUDE FEMININO
Analisando o contexto cultural envolvido e considerando a origem do livro “A Mulher Nua” (Inglaterra), Morris estabelece padrões estéticos a partir de suas vivências culturais onde, como em toda sociedade ocidental moderna, o padrão de beleza estabelecido é caucasiano. Dessa forma, é descartado (mesmo se partisse da preferência individual do autor) o postulado da unicidade do sujeito, pois o autor é visivelmente influenciado por um discurso de caráter ideológico na qual se contextualiza a sua obra.
O texto “Design Perfeito” tem como temática a evolução do ser feminino, tomando como base os estudos científicos do zoólogo inglês Desmond Morris. No transcorrer da reportagem, na qual está pautada a teoria da evolução feminina proposta pelo zoólogo, são apresentados alguns argumentos que procuram dar respaldo à teoria em questão.
Tomando como base a tese do zoólogo inglês Desmond Morris, de que a neotenia (manutenção de características infantis na idade adulta) seria um dos processos responsáveis pela evolução da espécie humana, o autor classifica a mulher como o animal mais fantástico do planeta, visto que para ele a fêmea é o ser com mais características infantis depois de adulta (já que a necessidade da proteção do macho fez a mesma desenvolver tais peculiaridades).
A neotenia, além de representar o baluarte da teoria evolucionária proposta pelo zoólogo, atua como elemento de segregação entre homens e mulheres, uma vez que, nos primeiros, as características de criança estariam atreladas ao comportamento, manifestando-se através da atividade intelectual que Nogueira chama de “risco da brincadeira”. Já nas fêmeas, os traços infantis se expressariam no corpo adulto. Essa distinção mantém relação com a dicotomia corpo e mente, como se a possibilidade do desenvolvimento de um anulasse o outro e vice-versa.
O sujeito do enunciado inicia o texto com a seguinte afirmação: “O inglês Desmond Morris trata as mulheres como animais”. Sendo que, logo em seguida, esclarece que o motivo dessa afirmação deve-se ao fato de Morris ser um zoólogo. O dispositivo de enunciação coloca o enunciador1 enquanto sujeito que se ofende diante do comentário preconceituoso, lugar no qual o coemissor também se reconhece. Entretanto, para justificar o motivo que o levou a tal afirmação, o próprio emissor deixa transparecer seu conhecimento da reação do coenunciador (leitor) diante da enunciação que coloca a mulher como sendo um animal, o qual, no senso comum, está associado à estupidez e irracionalidade.
Para justificar o referido enunciado, (o da mulher como animal) o autor esclarece que se trata de uma visão científica na qual a mulher é estudada como “mais uma espécie” (Nogueira, 2005:46). Todavia, o emissor afirma mais abaixo que a mulher para Morris, não é “... mais uma espécie” e sim “o mais extraordinário organismo existente no planeta” (Morris apud Nogueira, 2005:46), contrariando sua fala anterior, e revelando, dessa forma, a presença de mais de um enunciador no discurso (daí a necessidade de explicitar o enunciador 1 e o enunciador2). Entretanto, é necessário destacar que os enunciadores 1 e 2 não significam necessariamente Morris ou Nogueira, e sim ordens de discurso construídas socialmente, como veremos mais adiante através de exemplos.
Verifica-se no decorrer do texto, a presença de heterogeneidade mostrada, quando o emissor remete-se pragmaticamente, através de citações e referências, ao livro “A mulher nua” de Desmond Morris.
Em determinado trecho, apesar de afirmar que o corpo feminino é resultado de uma cadeia evolutiva que o moldou, o sujeito da enunciação reforça todo um pensamento social e cultural que coloca o macho como colonizador que explora a fêmea (colônia). O imperativo “... vire a página para explorar cada pedacinho da mulher nua” (Nogueira, 2005:46), denota todo o escárnio machista do enunciador2, tal como desenvolve uma direta identificação com o coenunciador (leitor) que se coloca no papel de explorador da mulher nua. Para tanto, o texto é dividido em partes “fundamentais” do desenvolvimento feminino: cabelos, nariz, bochechas, lábios, pescoço, mãos, seios, cintura, quadris, pêlos púbicos, genitais, bunda, pernas e pés.
O emissor ainda formula, a partir da fala de Morris, a superioridade do sexo feminino em relação aos machos, tese que é desmentida tacitamente por um segundo enunciador que está presente ao longo texto. Ao fazer a descrição detalhada do corpo feminino, o enunciador2 reforça suas concepções machistas ao construir a imagem de uma mulher indefesa e carente da proteção masculina: “Se a mulher nunca chega a ter um rosto peludo é para manter a aparência de criança que precisa de proteção” (Nogueira, 2005:47).
Ao distinguir os lábios femininos dos masculinos, o mesmo deixa transparecer a idéia de que os lábios femininos, sempre carnudos e macios, foram feitos para serem beijados.
O segundo enunciador ainda age de modo racista, ao enfatizar a inferioridade das morenas e ruivas na relação entre feminilidade e cabelos. Adotando a máxima de que, os cabelos mais finos, são mais femininos, o enunciador2 afirma que as loiras, por possuírem os fios de cabelo menos densos seriam mais femininas que as morenas e ruivas.
Diante de tais evidências, fica clara a presença de dois enunciadores no texto, um primeiro que sublima o ser feminino; e o segundo responsável pela reprodução de modo irônico de um pensamento machista, que tenta verificar mediante a visão científica a posição subalterna da mulher desde o mundo primitivo.
Em uma sociedade onde o discurso ideológico baseado em relações de poder destaca-se, o texto “Design Perfeito” de Marcos Nogueira (embasado na análise de Desmond Morris) surge para reforçar uma ideologia milenar presente em diversas culturas: o machismo. O poder do homem sobre a mulher é disfarçado numa tese que defende de forma irônica os atributos físicos femininos como conseqüências de uma evolução biológica.
Durante o texto, o jornalista ao expor a figura feminina através da fragmentação das partes de seu corpo para construção da imagem da mulher subserviente ao padrão existente de dominação masculina, utiliza-se de frases estratégicas do escritor para confirmar e expor a própria ideologia. Como exemplo, há o trecho: “(...) nesse sentido as loiras são mais femininas”(Morris apud Nogueira, 2005:48); segundo ele, daí vem o costume feminino de tinturar os cabelos, iniciando dessa forma o que defende ao longo de todo o texto, que é a idéia de que a razão de toda e qualquer ação feminina é o homem. Além disso, converte as próprias características culturais e raciais de consumo – como o “tinturar dos cabelos” – em dado biologicamente (ou melhor, zoologicamente) sustentado.
Partindo da falsa noção de neutralidade das ciências positivas, o texto não deveria apresentar ideologias. Entretanto, os enunciadores alternam entre o ideológico e o científico, a exemplo da falta de comprovação concreta apresentada durante todo o escrito e que se evidencia abaixo:
“... não é preciso dizer o quanto essas qualidades agradam ao homem. Não se sabe ao certo por que, mas Morris levanta uma hipótese: como nossos ancestrais...”(Nogueira, 2005:50)
Dessa maneira, fica evidente a relação entre poder e discurso, uma vez que a fala do zoólogo é legitimado pelo pensamento que norteia o contexto da sociedade moderna: o discurso “científico”.
NOTA:
Na época da análise, utilizei como referência a versão impressa da revista. Entretanto, a mesma encontra-se disponível na web pelo site http://super.abril.com.br/ciencia/design-perfeito-445760.shtml
REFERÊNCIAS:
1MORRIS, Desmond. A mulher nua: um estudo do corpo feminino. Rio de Janeiro: Globo, 2005.
NOGUEIRA, Marcos. Design perfeito. Superinteressante, São Paulo: Abril, No 215, p. 46-50, jul. 2005.
MAINGUENEAU, Dominique. Enunciado e contexto. IN: Análise de textos de comunicação.São Paulo: Cortez, 2002. p.19-29.
PINTO, Milton José. Uma agenda para análise de discursos. IN: Comunicação e discurso: introdução à análise de discursos. São Paulo: Hacker, 2002.
____________As virtudes explicativas da narrativa midiática. Idem.
SCALETSKY, Eduardo Carnos , OLIVEIRA, Ana Lúcia Valença de Santa Cruz. Iniciando na pesquisa. 3. ed. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 2002.
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. 4 .ed. São Paulo: Atlas, 2000.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Emissoras de TV veiculam vídeo contra a homofobia
O vídeo, assinado pela agência de propaganda Giacometti, de São Paulo, e cedido ao Grupo Arco-Íris, tem 30 segundos e usa como gancho o alfabeto brasileiro para falar dos iguais.
Assista aqui ao comercial contra a homofobia.
A Campanha Não Homofobia tem como objetivo colher assinaturas virtuais para a aprovação do PLC 122/06, que criminaliza a homofobia no país. Até o momento, o abaixo-assinado já contou com a participação de mais de 55 mil pessoas.
Assine também e ajude a tornar crime inafiançável a discriminação contra Homossexuais no Brasil: Campanha Não Homofobia
http://migre. me/54qb
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Racismo não é brincadeira!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um médico foi fazer o parto de uma mulher negra!
O médico foi fazer o parto de uma mulher negra.
. Tirou o 1º : Nossa! Que bebê lindo!
. Tirou o 2º : Noooossa!
. Tirou o 3º : Esse é bem gordinho!
. Quando veio o 4º: Fecha! Fecha! Fecha que é arrastão!
A mulher negra e a branca - Outras
Sabe qual a diferença entre a mulher negra e a branca quando vão ter um bebê ?
A mulher branca dá a luz e a negra dá curto-circuito.
Bicha preta e a Branca -
Estavam 2 bichas, uma preta e uma branca andando na praia à noite, derrepente elas encontram uma lâmpada mágica e mais que depressa esfregam para sair o gênio.
O gênio saiu e vendo aquele contraste disse: já que são bichas e são duas, só vou dar 2 pedidos.
A bicha preta disse: Eu quero ser branca, eu quero ser branca!!!
E o gênio assim fez, transformou-a na mais bela bicha branca.
Chegou a vez da branca!
Qual seu pedido, disse o Gênio?
E ela disse: Eu quero que a outra volte a ser Preta...
Como saber se uma mulher negra está grávida?
“Como saber se uma mulher negra está grávida?
Resposta: Enfie uma banana em sua genitália, se voltar mordida é porque está grávida”.
Esta pode ser encontrada no livro “Humor com Humor” assinado pelo médico Lucimar Borel de Assis.
Edital para promoção da cultura negra
- Cleidiana Ramos
- 08.04.09
Tem edital da Fundação Cultural Palmares para apoiar projetos de promoção da cultura negra. O financiamento totaliza cerca de R$ 400 mil. Para concorrer os projetos tem que ter como direção a Lei 10639/03, que detemina o ensino de Históira da África e Cultura Afro-Brasileira, com enfoque em atividades culturais comemorativas ao Dia Nacional da Consciência Negra 2009.
O tema das atividades deve ser Renascimento Africano- Fesman. O Festival de Música e Artes Negras (Fesman), cuja realização prevista para dezembro deste ano acaba de ser adiada (Veja mais aqui sobre o adiamento). Elas devem ser direcionadas para crianças e jovens em idade escolar.
As inscrições já estão abertas e vão até o dia 14 de setembro. O projeto deve propor ações para todo o mês de novembro em pelo menos uma das seguintes expressões artísticas e sociais: teatro, dança, literatura, música, cinema, moda, design, artesanato, culinária, formação cultural ou seminários com temas políticos e sociais voltadas para a questão negra.
As propostas podem ser inscritas em duas categorias: Projeto individual, voltado para artistas que desenvolvem trabalhos ligados à cultura negra; e Projeto de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos, que também trabalhem com estes temas e tenham, no mínimo, três anos de fundação.
Cada projeto individual selecionado receberá R$ 20 mil. Até dez projetos podem ser contemplados. Já a categoria de entidades privadas vai premiar cinco propostas com um prêmio de até R$ 40 mil por projeto.
Para acesso à versão on line do edital clique aqui . Já neste link você encontra mais informações sobre o processo de seleção.
Ministro do Senegal recebe título de cidadão de Salvador
Ministro do Senegal recebe título de cidadão de Salvador
- Cleidiana Ramos
- 08.11.09
Amanhã, o ministro da Diáspora do Senegal, Amadou Lamine Faye, vai receber o título de cidadão de Salvador. O ministro de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, participa da solenidade a partir das 19 horas na Câmara Municipal em um dia especial: a data em que aconteceu a Revolta dos Búzios, movimento também conhecido como Conjuração Baiana e Revolta dos Alfaiates.
A Revolta dos Búzios, ocorrida em 1798 em Salvador, defendeu bandeiras como o fim da escravidão e a instalação da República. Os líderes Manoel Faustino dos Santos, João de Deus do Nascimento, Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, todos negros, estão entre os principais ativistas do movimento.
Autora do projeto para concessão do título, a vereadora Olívia Santana (PCdoB), destaca a importância dos laços entre Senegal e Brasil.
“Levas de senegaleses foram trazidos para o Brasil, principalmente para Salvador. A nossa intenção é fazer esse irmanamento entre a capital baiana e a Ilha de Goré, no Senegal, e assim garantir que políticas de relações comerciais, culturais e educacionais possam acontecer entre as duas cidades, com impactos positivos para ambas”, disse.
O novo cidadão soteropolitano, Lamine Faye, é jornalista e escritor. Como ministro ele atua na assessoria para elaboração de políticas do governo senegalês para uma melhor integração com países da diáspora, caso do Brasil.
Além das suas atividades políticas, Faye lançou a revista bilingue- que circula também em Salvador- Destin de L´Afrique (Destino da África)-, que tratou do Carnaval e de outra manifestações de matriz africana na Bahia. Ele também realizou um documentário sobre a capital da Bahia e o Colóquio da Unegro, realizado aqui no ano passado em comemoração aos seus 20 anos.
http://www.atarde.com.br/blog/mundoafro/index.jsf
Entrevista com Angela Davis
Angela Davis- Parte I
“Quando Obama visitar o Brasil, vai aprender algumas lições”
Aos 65 anos, Angela Davis continua a mostrar por que se tornou um ícone do movimento negro norte-americano nos anos 1970. Bastam minutos de conversa com a hoje pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (EUA), para perceber a sua facilidade em expor, numa linguagem clara, linhas de raciocínio complexo, fruto do aprofundamento que marca sua produção acadêmica. Um exemplo é quando explica a visão que tem do feminismo, para além do embate de gênero. A jovem ativista de outrora continua também a fascinar a juventude. Este segmento foi o público mais constante nas palestras que ela realizou, na última semana, em Salvador, como convidada da XII Edição da Fábrica de Ideias, programa anual sediado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao/Ufba ). Coordenada pela doutora em sociologia Ângela Figueiredo e pelo doutor em antropologia Lívio Sansone, a Fábrica oferece treinamento para jovens pesquisadores em estudos étnicos. Angela Davis, inclusive, discorda de quem costuma apontar a juventude do mundo atual como apática, do ponto de vista político. Para ela, cada geração tem sua forma própria de atuação. “A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais”, afirma. Nesta entrevista concedida à repórter Cleidiana Ramos, com o auxílio da tradutora Raquel Luciana de Souza, Angela Davis falou, dentre outros assuntos, sobre as lições que o governo brasileiro pode oferecer a Barack Obama, em relação a uma política de maior aproximação com a África.
A TARDE – É a segunda vez que a senhora vem à Bahia. O que notou sobre a questão racial e de gênero aqui?
Angela Davis – O termo feminismo é ainda bastante contestado, como também é contestado nos EUA. Mas, eu descobri que há mulheres ativistas que estão fazendo um trabalho bastante semelhante. Então, nesse sentido, não faz diferença como uma pessoa se identifica. Tem mulheres que estão trabalhando nessas questões de violência contra a mulher, assistindo vítimas dessa violência e, ao mesmo tempo, pensando em formas de se erradicar um fenômeno que é uma pandemia por todo o mundo. São questões que eu acredito que perpassam as fronteiras nacionais. Acredito que ativistas nos EUA podem aprender muito com ativistas aqui do Brasil.
AT – Ao que a Sra. atribui a resistência ao termo feminismo?
AD- Há essa resistência ao termo feminismo porque pressupõe-se que se adotem posições vazias. Há posições antimasculinas, anti-homem. Quando feministas brancas formularam pela primeira vez essa noção de direitos das mulheres, elas estavam somente prestando atenção à questão de gênero e não prestavam atenção à questão de raça e de classe. E nesse processo elas racializaram gênero como branco e colocaram uma questão de classe como uma classe burguesa, mas as feministas negras argumentaram que você não pode considerar gênero sem considerar também a questão de raça, a questão de classe e a questão de sexualidade. Então isso significa que as mulheres têm de se comprometer a combater o racismo e lutar tanto em prol de mulheres como de homens.
AT – É uma visão bem diferente daquela que a maioria das pessoas tem sobre feminismo.
AD- O tipo de feminismo que eu abraço não é um feminismo divisivo. É um feminismo que busca a integração. Mas, como disse anteriormente, estou mais preocupada com o trabalho que as pessoas fazem e o resultado que alcançam do que se estas pessoas se denominam feministas ou não. Muito do trabalho histórico tem descoberto tradições e legados feministas de mulheres que nunca se denominaram feministas, mas nós as localizamos dentro de uma tradição feminista. Eu já vi trabalhos que falam sobre Lélia Gonzalez no Brasil denominando-a feminista e eu não sei se ela se considerava feminista. Tem também mulheres contemporâneas como Benedita da Silva. Eu não sei se ela se identifica como feminista.
AT- A senhora pensa em escrever algo sobre as suas impressões em relação à Bahia?
AD- Eu acho que sim. Mas eu teria de voltar aqui e passar um pouco mais de tempo fazendo uma pesquisa substantiva. Estou bastante impressionada com o ativismo das mulheres em Salvador e, em geral, aqui é um lugar maravilhoso.
Angela Davis- Parte II
AT – A Cidade das Mulheres, de Ruth Landes, trabalho realizado na década de 30, trata do poder feminino no candomblé da Bahia.
AD- Aqui no Brasil, o poder que as mulheres exercem é uma base muito poderosa para o poder feminista no Brasil. Eu escrevi um livro, Legados do Blues, e o meu argumento é que as mulheres do blues, durante os anos 20, ajudaram a forjar um feminismo da classe trabalhadora.
AT – Os EUA elegeram pela primeira vez um presidente negro. Passado esse primeiro semestre do governo Obama, como a senhora avalia as suas ações?
AD- Ele fez coisas boas e fez algumas coisas ruins. A minha posição em relação a Obama nunca foi de pressupor que um homem sozinho, independentemente de sua raça ou classe, pudesse salvar o país e o mundo. O que foi bastante entusiasmante em relação à sua eleição foi o que nós aprendemos sobre o país. O fato de que tantas pessoas estavam predispostas a votar nele nos diz que houve progresso. É claro que não atrapalhou o fato de ele estar disputando a eleição com o partido de George Bush. A segunda questão é que Obama apresentou-se como alguém conectado a uma tradição de luta negra. Ele se identifica com o movimento dos direitos civis, com figuras como Martin Luther King. Um homem negro que tivesse uma política conservadora não teria feito a diferença em termos de ponderarmos sobre onde estamos agora. A terceira questão e, provavelmente, a mais importante, é que Obama foi eleito porque os jovens criaram esse movimento em massa.
AT – Este é um aspecto bem interessante sobre a vitória de Obama.
AD – A eleição de Obama nos transmitiu o que estava acontecendo em termos de organização de uma juventude com um movimento de base. Eram jovens negros, brancos, latinos, indígenas. A minha esperança está na capacidade de esse movimento ir na direção correta. Por outro lado, Obama não tem tomado bons posicionamentos, como em relação à questão da manutenção das tropas militares no Afeganistão.
AT – O governo brasileiro adotou uma política de aproximação com os países africanos. Há muita esperança de que o governo Obama possa fazer o mesmo. Esta esperança, em sua opinião, pode se confirmar?
AD- Obama tomou uma boa decisão ao visitar à África. Ele visitou Gana. Isso prova que sua visita não era simplesmente em função das suas origens, mas também para discutir problemas sérios. Em, termos de relação entre os EUA e a África, principalmente na questão histórica, foi muito importante a visita de Obama aos fortes de Gana, da Costa do Cabo e à porta do não-retorno. Foi muito importante para os EUA verem isso. Os afro-americanos já conhecem esses lugares. Eles viajam ao Senegal, a Costa do Cabo, mas esta foi a primeira vez que essa conexão histórica entre EUA e a África foi evidenciada. Isso estimulou uma discussão sobre o papel da escravidão. Logo depois, por exemplo, houve reportagens sobre a plantação onde um bisavô de Michelle Obama foi escravo.
AT – As questões históricas ganharam destaque.
AD- Estas questões históricas são importantes. Mas o que eu considero ser muito difícil para Obama fazer é reconhecer os danos horrendos que o capitalismo causou à África. As políticas de ajustes estruturais do FMI e do Banco Mundial fizeram com que vários países africanos desviassem recursos de serviços sociais para setores lucrativos da economia. Acredito que isso é que tem de ser abordado. Eu sei que o Brasil tem uma posição mais progressista em relação à África. Então, provavelmente, quando Obama visitar o Brasil ele vai poder aprender algumas lições. Quando isso acontecer, estaremos extremamente felizes porque nós ficamos muito envergonhados quando o George Bush veio e disse: “Eu não sabia que havia negros no Brasil”.
Angela Davis- Parte III
AT – O que pensa a Sra. pensa sobre as ações afirmativas no Brasil?
AD-Não tenho acompanhado esta discussão rigorosamente. Mas, na minha primeira visita ao Brasil, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, as pessoas estavam apenas começando a reconhecer que o Brasil não era uma democracia racial. As ações afirmativas ainda estão sendo muito atacadas nos EUA, mas têm sido responsáveis pela integração de várias instituições em lugares, por exemplo, como a África do Sul. Eu sei que aqui no Brasil elas acontecem no que diz respeito às universidades. As ações afirmativas são um instrumento muito importante. O discurso nos EUA modificou-se. No lugar de se falar sobre ações afirmativas fala-se agora sobre diversidade, o que é problemático. A administração de George Bush foi a administração mais diversificada na história dos EUA antes da administração de Obama. Mas ele colocou em seu governo negros e latinos conservadores. Essa diversidade tem sido definida como a diferença que não faz a diferença.
AT – Quando foi implantada a política de ações afirmativas nos EUA?
AD- Em 1977, tivemos o primeiro desafio jurídico às ações afirmativas. Isso aconteceu num caso levantado por um homem branco que não foi admitido para a Universidade da Califórnia e desde então há o caso de vários outros processos judiciais impetrados por brancos que argumentam ser vítimas de um racismo às avessas.
AT – No Brasil, o STF prepara-se para julgar a constitucionalidade das cotas a partir de uma provocação do DEM.
AD- A meu ver, deve-se desafiar pressuposições de que o caso trata apenas de homens brancos como indivíduos e mulheres negras como indivíduos que estão ali lutando por um emprego. As ações afirmativas nunca foram concebidas para ajudar indivíduos apesar do fato de que indivíduos se beneficiam das mesmas. A ideia é soerguer uma comunidade inteira. Trata-se de uma população que foi objeto de discriminação. Tanto nos EUA como no Brasil nós ainda vivemos com o sedimentos da escravatura. A escravidão não é somente algo que existe no passado. Habita o nosso mundo hoje em dia, com toda a pobreza, o analfabetismo. As ações afirmativas são um passo inicial em termos de se abordarem questões de escravatura, colonização. Esquece-se tudo isso. Parece que existem só duas pessoas: um homem branco e um homem negro, ou um homem branco e uma mulher negra.
AT – A Sra. vem de uma geração muito politizada. Como analisa a ação política da juventude do mundo atual?
AD-Eu estou muito entusiasmada. Não sou o tipo de pessoa que gosta de deitar nos louros da minha geração. Eu sei que cada geração abre uma nova trilha. Frequentemente pessoas que se engajaram em movimentos pressupõem que cada geração tem de fazer a mesma coisa da mesma forma. A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais. Grande parte do meu ativismo é contra o complexo industrial carcerário. Este é um movimento cuja maioria é constituída por jovens que utilizam métodos diferentes. Eles utilizam representações culturalistas, como música, e usam novas formas de comunicação, como facebook. Estou aprendendo muito com isso.
AT – É um movimento interessante, então.
AD-Estou feliz que eles tenham feito isso, porque se transforma o terreno para que se possa desenvolver novas ideias, expandindo o nosso conhecimento sobre as possibilidades para a liberdade. Por isso eu acho tão importante prestar atenção nos jovens. Eu não acredito nessas pessoas que dizem que os jovens são apáticos que eles não estão fazendo nada. Nós precisamos acompanhar este movimento, de maneira que estas noções de liberdade se expandam e se tornem mais abrangentes porque eu não acredito que chegaremos num ponto no qual possamos dizer “isto é liberdade, nós chegamos ao topo da montanha e podemos parar de lutar”. Acho que será uma luta infinita e as vitórias que conquistamos nos permite imaginar novas liberdades. O discurso de Martin Luther King, conhecido como Eu tenho um sonho, fala sobre chegar ao topo da montanha. Ele nunca diz o que se vê ao chegar ao topo da montanha. Acredito então que cada geração vai criar novas imaginações do significado de ser livre.
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