terça-feira, 11 de agosto de 2009

LIVRO: Reconfiguração das relações de gênero no trabalho

(2° parte)


Regina Farias
Estudante de Ciências Sociais - UFBA
Pérola Negra


O tempo

Cláudio Dedecca faz uma analise sobre o uso do tempo no sistema capitalista e suas implicações na vida dos trabalhadores. Segundo o autor, o tempo para a reprodução econômica envolve aquele destinado ao trabalho remunerado e o gasto com deslocamento para sua realização. O tempo para reprodução familiar e social incorpora, basicamente, as atividades de organização domiciliar, de lazer e de sono. (DEDECCA, 2004).
Na sociedade moderna o tempo é regulado pelas instituições políticas e culturais. Todavia, o capitalismo ao se apropriar da força de trabalho, passa também a exercer um controle sobre a organização do tempo dos trabalhadores. Vale ressaltar, que o modo de produção fordista é quem introduz nas relações de trabalho um controle rígido não só sobre a execução das tarefas dentro das empresas, bem como a organização do tempo livre dos indivíduos destinado ao lazer e cuidados familiar.
Dedecca (2004) diz ainda que no século XX, a história do trabalho até a década de 1970 foi caracterizada pela difusão de instrumentos de regulação e padronização da jornada de trabalho. Esses instrumentos foram construídos inicialmente na esfera pública do Estado e, após a segunda guerra mundial, através de contatos coletivos de trabalho. A regulação promovida em ambas as dimensões se retro-alimentam, provocando uma queda sistemática na jornada anual de trabalho em diversos países, em especial nos desenvolvidos.
O autor nos informa ainda, que a partir da década de 1980 esse movimento é rompido provocando um aumento do desemprego, da flexibilização da jornada de trabalho, padronização das atividades, que por sua vez, vai exercer uma pressão sobre os sindicatos, reprimindo, as lutas coletivas dos trabalhadores, incentivado o individualismo e o consumismo. “A flexibilização da jornada de trabalho encontra-se restritamente associada à consolidação do consumo individual conspícuo difundida no capitalismo central e periférico nesses últimos 20 anos” (DEDECCA, 2004).
Essa gerencia do tempo pelo sistema capitalista tem um impacto bastante negativo sobre as mulheres por conta da sua dupla jornada de trabalho, e das especificidades do sexo feminino, como a gravidez, a amamentação e outros. A divisão sexual do trabalho estabelece nas diversas sociedades o papel do homem e o da mulher na tarefa produtiva. Deste modo, fica a cargo da mulher a responsabilidade sobre as tarefas domesticas, de cuidado da família e educação dos filhos, (tarefa reprodutiva) e para os homens a produtiva. “Essa é uma situação de exploração, porque o trabalho reprodutivo é necessário à vida de todas as pessoas e é realizado, geralmente, apenas pelas mulheres, sejam elas adultas ou crianças.” (BUARQUE e SANTOS, 2005).
Dentro deste contexto, as mulheres têm uma jornada de trabalho superior a dos homens, posto que a inserção destas no mercado de trabalho não significou uma redução nos afazeres domésticos. De acordo com as pesquisa de Dedecca, em 2001, 42% dos homens declararam realizar afazeres domésticos, contra 90% das mulheres. Essa situação é semelhante em diversos país, tanto os de economia desenvolvida como França, Estados Unidos, Holanda, Itália e outros países de economia frágil, como Brasil, Argentina e Chile. Entretanto, essa situação é mais dramática para as mulheres do segundo grupo. Em fase dessa problemática, o autor diz que é preciso tratar o tempo de modo amplo para que abranja as diversas dimensões do trabalho feminino.

Referência bibliográfica

BORGES, Ângela. O capital e a mão invisível do trabalho: notas debate sobre a centralidade do trabalho no capitalismo contemporâneo. In: Caderno CRH, n. 33. p. 179-196, jul./dez. Salvador. 2000.

BURQUE, Cristina, SANTOS Graciete. O que é gênero? In: Formação de formadores para talhadoras do setor comércio. Salvador. 2005.

BRUSCHINI, Cristina. Gênero e trabalho no Brasil: novas conquistas ou persistências da discriminação? (Brasil, 1985/95). In: ROCHA,Maria Isabel Baltasar da. Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios. São Paulo: Editora 34, 2000, p.13-58.

COSTA, Ana Alice; OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de; LIMA, Maria Ednalva Bezerra de; SOARES, Vera. [Org.]. Reconfiguração das relações de gênero no trabalho. São Paulo. CUT Brasil, 2004. 144p.

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