quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Irmandade da Boa Morte

A beleza da Festa da Boa Morte

Festa da Boa Morte começa amanhã em Cachoeira. Foto: Reginaldo Pereira| AG. A TARDE

Festa da Boa Morte começa amanhã em Cachoeira. Foto: Reginaldo Pereira| AG. A TARDE

Amanhã começa a festa de Nossa Senhora da Boa Morte, promovida pela irmandade homônima em Cachoeira. Durante três dias -13, 14 e 15 – as irmãs da Boa Morte são as protagonistas de uma celebração secular que cultua Maria, a Nossa Senhora dos católicos, mas que também guarda raízes com os cultos aos ancestrais do candomblé.

A data escolhida para os festejos é o dia 15 de agosto, porque é quando os católicos comemoram a assunção de Maria. O termo, no lugar de ascensão, é usado, pois, segundo a tradição católica, ela não apenas subiu aos céus, mas recebeu o privilégio de ter feito este percurso com seu corpo terreno. Não poderia ter, de acordo com os teólogos, o mesmo destino dos demais mortais ( a decomposição) o corpo que gestou Jesus, a encarnação do próprio Deus.

Um outro aspecto interessante da irmandade é que ela permite a participação apenas de mulheres, que são admitidas quando tem uma média de 45 anos. Portanto, a Boa Morte é uma espécie de sociedade feminina, regida pelo segredo, pois tem informações acessíveis apenas para as participantes.

Do ponto de vista estético elas também fascinam por conta da variedade das vestes que usam nestes dias. Na abertura da festa, quando é lembrada a morte de Maria, elas estão de branco. Já na celebração do enterro, saem de preto e branco. Em 15 de agosto, ponto alto da festa, elas envergam roupas em tons de vermelho, preto e branco, e muitas jóias.

Após o encerramento da parte religiosa, vestem as estampadas saias de crioula e mostram um espetáculo de samba de roda, enquanto é servida uma deliciosa refeição, oferecida pela irmandade, aos participantes da festa.

As irmãs da Boa Morte são descendentes de mulheres que conheceram a escravidão, mas que, na sua maioria conseguiram, via o seu trabalho, pagar aos poucos sua alforria e manter um padrão de vida, em alguns casos, perto da comodidade financeira que as faziam conhecidas como as ”negras do partido alto”. Não poucas vezes foram também as responsáveis pela liberdade de filhos e maridos.

Com suas posses mantinham o brilho da festa. Outro detalhe interessante sobre a irmandade é que ela foi criada em Salvador e só muito depois mudou-se para Cachoeira. Estima-se que isso tenha acontecido já mais para o final do século XIX.

Para quem nunca viu a festa, esta é uma oportunidade imperdível, além de Cachoeira ser uma cidade belíssima e ficar a pouco mais de uma hora daqui. Tem linhas de ônibus também disponíveis em horários espaçados. O que dificulta um pouco é conseguir, facilmente, a uma altura destas, hospedagem em Cachoeira, pois neste período a cidade fica cheia de turistas, portanto é necessário um planejamento anterior. Mas quem tem a sorte de poder participar não deve perder.

http://www.atarde.com.br/blog/mundoafro/index.jsf

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